BRICS se expandindo em uma potência econômica: Petrodólar sob ameaça
Com novos integrantes, bloco representa 37% do PIB global, 40% da produção de petróleo e 1/3 da produção de gás, desafiando o sistema do petrodólar dos EUA
Ben Norton, Geopolitical Economic Report
Em sua cúpula em Joanesburgo, África do Sul, em agosto deste ano, o BRICS convidou seis novos membros: Argentina, Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.
Agora, o bloco representa 37% do PIB global (medido pelo poder de compra, ou PPC), bem como 40% da produção global de petróleo e aproximadamente 1/3 da produção global de gás.
A inclusão de importantes produtores de petróleo, como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, que há muito tempo fixam o preço de seu petróleo em dólares, é um desafio direto ao sistema do petrodólar dos EUA.
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Todas as nações convidadas indicaram que se juntarão oficialmente ao bloco estendido BRICS+ em 1º de janeiro de 2024.
Quatro dos dez maiores produtores de gás do mundo agora são de fato membros do BRICS+, representando 32% da produção global.
Sete dos dez maiores produtores de petróleo do mundo agora são de fato membros do BRICS+. De acordo com dados de 2022 da Administração de Informações de Energia dos Estados Unidos, esses incluem o:
- segundo maior produtor (Arábia Saudita)
- terceiro maior produtor (Rússia)
- quinto maior produtor (China)
- sétimo maior produtor (Emirados Árabes Unidos)
- oitavo maior produtor (Brasil)
- nono maior produtor (Irã)
Desdolarização na cúpula do BRICS – Um tópico-chave na cúpula do BRICS em Joanesburgo de 22 a 24 de agosto foi a desdolarização — o movimento internacional de países em busca de alternativas à moeda hegemônica dos EUA.
O governo russo confirmou que alguns membros do BRICS estão gradualmente elaborando planos para uma nova moeda global para o comércio internacional, para equilibrar os pagamentos e manter nas reservas de câmbio dos bancos centrais.
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, um dos co-fundadores originais do BRICS, usou a reunião na África do Sul como plataforma para defender a criação de uma nova moeda de reserva internacional para desafiar o dólar.
O BRICS possui um grupo de trabalho dedicado ao desenvolvimento de propostas concretas para essa nova moeda de reserva.
Lula enfatizou que seria "uma unidade de conta para o comércio, que não substituirá nossas moedas nacionais".
Esses comentários deixaram claro que o modelo do BRICS não é o euro; é algo mais parecido com o bancor, a unidade de conta internacional proposta pelo economista John Maynard Keynes na Conferência de Bretton Woods de 1944 (que acabou adotando o dólar como moeda de reserva global, sob pressão dos EUA).
As discussões sobre uma nova unidade de conta internacional ainda estão em estágios iniciais, no entanto, e a moeda está apenas no horizonte a médio e longo prazo.
No curto prazo, os membros do BRICS votaram para aumentar o uso de suas moedas nacionais no comércio bilateral.
O Novo Banco de Desenvolvimento do BRICS (NDB), agora sob a liderança da ex-presidente do Brasil, Dilma Rousseff, prometeu gradualmente desdolarizar os empréstimos do banco, fornecendo financiamento para projetos nas moedas nacionais dos membros.
BRICS: uma potência econômica – Em um artigo de agosto publicado antes do anúncio da expansão do bloco BRICS, o geógrafo econômico Mick Dunford explicou:
Em 2022, a produção econômica combinada dos cinco membros do BRICS, medida pelo poder de compra, superou pela primeira vez a do G7 liderado pelos Estados Unidos.
A taxas de câmbio de mercado em 2021, o BRICS representou 26,1% do PIB global e 53,1% da população mundial, em comparação com 43,5% e 9,8% do G7, respectivamente. No entanto, o PIB pode ser enganador.
Se examinarmos a produção de manufaturados, energia, matérias-primas e alimentos, os países do BRICS representam, respectivamente, 36,6%, 28,3% e 53,1% da produção mundial (em comparação com 35,5%, 28,1% e 14,1% no caso do G7).
Essa contribuição para a produção de bens reais essenciais para a sobrevivência humana excede significativamente a parcela do BRICS no PIB (sem corrigir as diferenças de poder de compra que aumentam significativamente suas parcelas), enquanto as do G7 são muito menores do que sua parcela no PIB.
O bloco se tornou uma enorme potência econômica - e está apenas crescendo em influência.
Presidente da China condena atos "hegemônicos e de intimidação" dos EUA – O presidente Xi Jinping enfatizou em seu discurso na cúpula do BRICS que a China não deseja uma "nova guerra fria".
Xi pediu por uma "cooperação de benefício mútuo", orientada pelo objetivo de "prosperidade comum" para todos.
Ao mesmo tempo, o líder chinês alertou para os atos "hegemônicos e de intimidação" de "algum país" - obviamente uma referência aos Estados Unidos.
Xi declarou:
Precisamos promover o desenvolvimento e a prosperidade para todos. Muitos mercados emergentes e países em desenvolvimento (MECDs) chegaram ao que são hoje após se libertarem do jugo do colonialismo. Com perseverança, trabalho árduo e grandes sacrifícios, conseguimos conquistar a independência e estamos explorando caminhos de desenvolvimento adequados às nossas condições nacionais.
Tudo o que fazemos é para proporcionar uma vida melhor ao nosso povo. No entanto, algum país, obcecado em manter sua hegemonia, tem se esforçado para enfraquecer os MECDs. Quem está se desenvolvendo rapidamente se torna alvo de contenção; quem está alcançando se torna alvo de obstrução.
Mas isso é inútil, como tenho dito mais de uma vez, apagar a luz dos outros não trará luz para si mesmo.
Nos bastidores da cúpula, Xi também se encontrou com o presidente de Cuba, Díaz-Canel. A mídia estatal relatou que Xi prometeu que "a China continuará a apoiar firmemente Cuba na defesa da soberania nacional e na oposição à interferência externa e ao bloqueio".
Da mesma forma, o presidente do Brasil, Lula, condenou o injusto sistema financeiro internacional dominado pelo Ocidente e insistiu que os países precisam de "um comércio global mais justo, previsível e equitativo".
"Não podemos aceitar um neocolonialismo ambiental que impõe barreiras comerciais e medidas discriminatórias sob pretexto de proteger o meio ambiente", acrescentou ele.
África do Sul compara o BRICS à Conferência de Bandung — Em seu discurso na cúpula do BRICS, o Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, comparou o bloco à Conferência de Bandung de 1955, que foi organizada para se opor ao colonialismo.
"Ao refletir sobre o propósito e o papel do BRICS no mundo hoje, lembramos da Conferência de Bandung de 1955, onde nações asiáticas e africanas exigiram uma voz maior para os países em desenvolvimento nos assuntos mundiais", disse ele.
"Ainda compartilhamos essa visão comum", acrescentou Ramaphosa. "Através da 15ª Cúpula do BRICS e deste Diálogo, devemos nos esforçar para avançar o espírito de Bandung de unidade, amizade e cooperação".
Argentina se juntará ao BRICS? Entre os seis países convidados a se juntar ao BRICS+, existe uma incerteza em relação a um deles.
O governo centrista atual da Argentina, liderado pelo Presidente Alberto Fernández, prometeu se juntar ao BRICS+. No entanto, se o país sul-americano realmente o fará ou não depende dos resultados das eleições que se aproximam em outubro.
Dois dos três principais candidatos à presidência afirmaram publicamente que não se juntarão ao BRICS+: a candidata de direita Patricia Bullrich e o candidato extremista de extrema-direita Javier Milei.
Milei deseja abolir o banco central da Argentina, abandonar a soberania monetária e adotar o dólar dos EUA como moeda nacional oficial (ao mesmo tempo em que implementa privatizações em massa de instituições estatais, constrói prisões privadas com fins lucrativos e militariza intensamente o país).
Quando questionado se consideraria se juntar ao BRICS+ se vencesse a eleição, o extremista de extrema-direita Milei declarou: "Nossa aliança geopolítica é com os EUA e Israel. Não vamos nos alinhar com comunistas".
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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